Veja dicas de como obter juros menores nos empréstimos com garantia
Embora a Selic, taxa básica de juros da economia, esteja há meses no menor patamar da história, de 2% ao ano, no dia a dia, quem precisa de crédito ainda encontra juros nas alturas.
No comércio, o custo das compras parceladas gira em torno de 72% ao ano. Um empréstimo pessoal nos bancos tem juros acima de 45% ao ano. No cheque especial, as taxas se aproximam de 128% ao ano e no cartão de crédito, passam de 257%, segundo a pesquisa de juros mais recente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
Para conseguir um custo mais acessível, quem busca dinheiro tem recorrido a opções como o crédito com garantia real – ou crédito colateralizado, no jargão do mercado financeiro.
O crédito colateralizado, na definição clássica, é a modalidade em que o tomador do empréstimo deixa uma garantia real ou financeira para a instituição que oferece o crédito.
Isso diminui o risco assumido pela instituição, pois ela pode lançar mão da garantia para cobrir o débito em caso de inadimplência do tomador. Assim, os juros cobrados são menores que os de linhas de crédito pessoal (veja exemplos abaixo).
O crédito com garantia real não é inédito, mas tem se popularizado nos últimos anos. O surgimento dos empréstimos consignados – em que os salários dos tomadores funcionam como a garantia real – ajudou nesse processo.
Atualmente, o rol de ativos que podem ser acionados no crédito colateralizado envolve imóveis, veículos, restituição do Imposto de Renda e até a carteira de investimentos mantida pelo tomador.
Investimentos como garantia em empréstimos
Usar a carteira de investimentos como garantia em empréstimos foi, por tempos, uma opção reservada pelos grandes bancos a seus clientes preferencias em operações grandes. Hoje, o acesso a esse tipo de negócio está mais fácil.
O Banco XP, por exemplo, oferece esse produto aos clientes que têm investimentos na XP Investimentos, com um valor mínimo de R$ 50 mil para o crédito.
Os juros cobrados são, em média, equivalentes à taxa do CDI mais 3,5% ao ano, com prazos que podem variar de um a cinco anos. A liberação do recurso se dá em torno de quatro dias.
“É um crédito para quem não quer parar de investir”, diz Pedro Testa, head de Sales e Crédito da XP Investimentos.
Faz sentido, segundo o executivo, para quem tem boa rentabilidade na carteira e, ao mesmo tempo, precisa levantar dinheiro. Em vez de resgatar as aplicações, pode usá-las para tomar empréstimo barato, sem mexer na aplicação.
A primeira operação colateralizada do Banco XP, diz Testa, foi realizada em janeiro de 2020, e o produto passou a ser oferecido ao público em abril. Até o fim do ano, as operações somaram R$ 4 bilhões.
“Grandes bancos não se interessavam em fazer operações colateralizadas para pessoas físicas porque elas dão muito trabalho e o operacional é caro”, afirma o professor George Sales, do Mestrado Profissional da Fipecafi.
Segundo ele, costuma ser mais vantajoso para essas instituições manter os juros altos, no lugar de pedir garantias e diminuir as taxas.
Fintechs e plataformas de investimentos têm estrutura mais leve do que os bancos, e por isso estão puxando a fila da popularização. “Isso aumenta a concorrência na área de crédito”, afirma Sales.
Por isso, já se veem mudanças no mercado. Quem possui investimentos no Itaú Unibanco e não quer resgatar dinheiro, por exemplo, também pode conseguir crédito com garantia dos ativos mantidos na instituição. O banco não informou os juros cobrados.
Outra forma de crédito colateralizado que tem ganhado terreno é o empréstimo com garantia em imóveis, também conhecido como “home equity”.
Várias fintechs estão apostando no segmento. A mais conhecida é a Creditas, acompanhada por outras como CashMe, CrediHome, Pontte e Kenlo.
Dados da Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) mostram que a concessão de empréstimos com garantia de imóvel saltou 25% no ano passado. As operações totalizaram R$ 4,1 bilhões em 2020, contra R$ 3,3 bilhões em 2019. O saldo em carteira dessas operações está em R$ 11,7 bilhões, com 95 mil contratos.
“O potencial de crescimento desses produtos é muito grande”, diz Fabio Zveibil, vice-presidente de Soluções para Clientes da Creditas, plataforma online de crédito com garantia de imóveis, veículos e salários.
Segundo ele, o valor de imóveis no Brasil soma cerca de R$ 10 trilhões. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já chegou a estimar em R$ 500 bilhões a injeção de recursos na economia com o home equity.
A fintech Creditas e os bancos Santander e Itaú são algumas instituições que oferecem empréstimos com garantia de imóveis. É possível contratar financiamentos no valor de R$ 30 mil a até R$ 3 milhões, e os juros cobrados variam de 0,65% a cerca de 1% ao mês, dependendo do prazo da operação.
Em algumas instituições financeiras, também é possível oferecer veículos como garantia de empréstimos.
Em geral, esse tipo de crédito colateralizado é usado para trocar linhas caras por outras mais baratas, além de custear pequenas reformas, tratamento médico e odondológico, investimento em negócio próprio, entre outros.
Os juros mensais mínimos variam de 0,89% a 1,5% em instituições como BV, Creditas e Santander.
Vantagens e riscos
As vantagens de oferecer uma garantia para conseguir melhores condições para obter crédito são grandes. Os especialistas alertam, porém, que é preciso ter disciplina financeira para não perder o bem, um risco real nesse tipo de operação.
Para Zveibil, é importante investir em educação financeira, para mostrar para as pessoas que a qualidade do crédito é vantajosa. “O medo é desproporcional em relação ao custo de não deixar um bem em garantia”, afirma.
Como o crédito colateralizado tem taxas mais baixas e prazos mais longos, as parcelas são menores – e mais fáceis de pagar. “Dói ver o cliente pagando 5% ao mês num crédito pessoal, tendo um apartamento de R$ 1 milhão e um carro de R$ 100 mil”, diz Zveibil.